Mais uma vez me engalfinhei com um livro do Bill Bryson. A bola da vez foi One Summer (Ed. Black Swan). Como de costume, encontrei mais do que sequências de eventos. Bryson tem o bom hábito de expandir suas pesquisas a detalhes que normalmente são deixados de fora em narrativas mais quadradas. Talvez more aí parte do tempero que transforma histórias a princípio nem tão sedutoras em relatos no mínimo curiosos e, nos melhores momentos, empolgantes.
Finda a leitura,
tenho a sensação renovada de que os livros do Bryson são, com poucas e
pequenas ressalvas, um caminho confortável para se conhecer pedaços da
História - seja sobre a colonização inglesa na Austrália, descobertas e avanços
da Ciência, a evolução das moradias no Reino Unido ou um pequeno recorte da sociedade estadunidense. É neste
último terreno que se espalham as páginas de One Summer: 1927, um ano
marcante para muitos dos moradores dos Estados Unidos e, por tabela, para parte da humanidade fora de lá também.
Coube muita coisa em 1927 naquele pedaço do mundo: Charles Lindbergh partiu em voo histórico rumo à França, o primeiro a sobrevoar o Atlântico; o mundo do baseball conheceu um astro gigante, um certo Babe Ruth (quem?); as sementes da crise de 1929 foram devidamente plantadas; em tempos de Lei Seca, Al Capone reinava no mundo da galera mais, digamos, animada; as transmissões por rádio bombaram e a TV foi inventada (a partir de um insight de um garoto de 15 anos, seis anos antes); o cinema deixou de ser mudo; para os estadunidenses, especificamente, foi o ano de uma das maiores tragédias naturais de sua história, a cheia do Mississipi, e da explosão em uma escola em Michigan que vitimou dezenas de crianças. Na Literatura, livros lançados por nomes que viriam a ser sagrados disputavam público - e perdiam feio - com obras populares cujos autores hoje ninguém conhece.
Eu passaria bem sem os capítulos dedicados a Babe Ruth, astro do baseball - afinal entendo lhufas do esporte e portanto me faltam componentes emocionais para vibrar com os números supostamente impressionantes de home runs, seja lá o que isso for. Porém nem aí a leitura me pareceu enfadonha. A verdade é que, preciso admitir, sou capaz de comprar um tratado sobre a história da batata-doce, se alguém me disser que foi escrita por Bryson.

Igualmente suculentos são os capítulos dedicados à invenção da TV (que incrível a história do garoto Philo Farnsworth, que infelizmente não conseguiu superar a força da RCA e viu sua patente ser atropelada - só esse relato já vale o livro) e ao surgimento do cinema falado. História pra mais de metro.
Permeando o falatório todo, Bryson mostra como a imprensa cobria os fatos: que histórias vendiam mais jornais e que tom era usado para falar de Al Capone? Que crimes ocupavam as primeiras páginas?
O fôlego de pesquisador de Bryson é mesmo admirável. Ao final do livro, há 30 páginas listando a bibliografia consultada, além de notas sobre as fontes e sugestão de "further reading". O livro é ilustrado com fotografias da época. Na minha favorita, duas mulheres se equilibram no alto de um prédio dançando Charleston, claro. :-)
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