(Prometo que responderei, assim que der, aos comentários nos últimos posts. Tá corrido. Beijos!)
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Tá lá o Bono ajoeilhado no chão.
Nos anos 80 e 90, sempre que alguma banda de que eu gostava muito se apresentava no Brasil, eu suspirava, via pela TV e "avisava" à minha mãe que se, um dia, o U2 aterrissasse por aqui, eu iria ao show "de qualquer jeito". Minha mãe devia achar graça daquilo porque, né, ia como, dear, com que dinheiro, senhorita, etc. Bom, não precisamos descobrir a solução para o impasse porque o U2 nunca veio.
Veio muito tempo depois, em 2006, na turnê Vertigo, quando eu já morava em Florianópolis e ela, então, ligou pra mim: "bem que você falou que um dia ia ver esse povo, hein?". Dessa vez o impasse foi outro. O Arthur era um bebezão de sete ou oito meses e não contávamos com nenhuma estrutura do tipo "com quem deixar". A solução foi o revezamento: fui ao primeiro show e Ulisses foi ao segundo. Claro que curtimos, ambos fomos com amigos bons de farra e matamos a vontade de ver a banda. Mas, ah, que coisa.
Agora fomos juntos e foi tudo muito bom também. Eu queria escrever que foi fantástico, usar palavras como irretocável e maravilhoso, mas no final do post vocês vão saber o motivo por me contentar com "muito bom" - não me refiro ao show em si, mas a certa circunstância que interferiu muito na maneira como vou me lembrar dele. Mas há outra palavra que posso usar: inesquecível.
Por partes, então, o show primeiro. Pra falar o mais óbvio, quem vai a um show do U2 não vai curtir a música somente. A música certamente é o principal e se ela fosse ruim tudo aquilo seria parafernália desperdiçada. Essa semana li o post do Medina em que ele diz que não gosta do tipo de show que o U2 produz porque toda aquela grandiosidade quebra um pouco a magia do improviso, o sublime da apresentação imperfeita, tira a beleza da simplicidade e por aí vai. Bom, essa foi minha leitura, pode ser que o Medina tenha tentado falar outra coisa. Não sofro desse mal. Ainda guardo com carinho a lembrança do show, ahn, sublime dos Los Hermanos em um teatro de Floripa, mas uma coisa não me impede de apreciar a outra. E se Bono e The Edge sentarem em banquinhos para cantarolar Beautiful Day, vou achar lindo também. Seja como for, o que vimos no Morumbi foi bem espetacular mesmo. Em alguns momentos, arrepiante; em outros, só beleza; em outros, explosão.

O palco do 360º é a materialização de um delírio: uma gigantesca aeronave com suas pernas de aranha encravadas no solo. No centro, uma estrutura redonda que dava a todos os lados do estádio a possibilidade de ver cada detalhe do que se passava no palco - inclusive os tropeços que também aconteceram. À minha mãe eu teria dito e não é que aterrissaram mesmo? Antes do U2 entrar em cena, a banda Muse, que eu nunca tinha visto mais gorda, vejam vocês, arrebentou. Com suas guitarras arrebatadoras (ai, não conheço outra palavra), esquentou o clima na medida. Ali ao ladinho do palco fiquei imaginando como ia ser legal ver os caras do U2 logo ali, tão pertinho como nunquinha tinha sonhado em 1989. Nem em tempo algum. Olhava ao redor e via o estádio absolutamente lotado; olhava pro alto e via a lua, que mora longe, mas não é boba nem nada e também espiava tudo.
Muse
Os acordes de Even Better Than The Real Thing deram início ao show. Não tem jeito, o tempo passa, o tempo voa, mas o amor verdadeiro permanece, hohoho. E se a música é boa no carro ou em casa, ao vivo ganha um poder tal que nem consigo descrever. E logo depois, milhares de pessoas disseram ao Bono o que ele já sabe, if you walk away,walk away, I Will Folloooooow!! Daí pra frente, música boa atrás de música boa, um Bono simpatia, um Edge na medida, um Adam Clayton toooodo performático, hihi, e aquela bateria bombando dentro da minha caixa torácica, afe, Larry.
Para "perfeito" o show não serve. Não entendi o que Seu Jorge foi fazer ali, por exemplo, e pelo jeito o Bono também não sabia, senti zero afinidade entre estrela e convidado; sinceramente, se a intenção era dar um tom cool ao show, para mim virou um momento desconforto. Tudo deslocado, nada a ver com nada e, olha só, Medina, teve até microfonia. Felizmente durou pouco e logo estávamos aos pulos, so high, e-le-va-tion!


As coisas espetaculares estavam lá, claro. O imenso centro da nave, que pairava sobre o palco durante a maior parte do show, movia-se, dilatando-se em pontos de luz que desciam até o nível do palco (veja o vídeo aí embaixo). Como de costume, Bono usou seu espaço em prol das campanhas em que se engaja mundo afora. Tivemos Desmond Tutu nos telões pós-modernos, Anistia Internacional (homenagem a uma líder asiática que ficou anos em prisão domiciliar após vencer eleições em seu país), minidiscurso pelo combate à fome - enfim, Bono. E também não seria Bono se não houvesse uma garota emocionada pescada da plateia - que leu parte da letra traduzida de Beautiful Day - e um garoto igualmente pinçado para os seus dez segundos de fama. Isso, aliás, pareceu-me demais da conta: todo show tem um guri, com, sei lá, dez anos, colado no palco, e o Bono encontra esse guri? Hum, tá. Well, whatever.
De certa maneira foi muito bom ver que o Bono está ficando velho, parece que fica tudo certo assim: foi ídolo antigo e parte da delícia está aí, suas canções entoaram anos que já vão longe e é bacana ver os sinais nele também. Mesmo assim, ainda se pendura no microfone-pêndulo, com barriguinha evidente e muitas rugas a mais.
The Edge, tocando pra mim.
Bono, declarando-se.
Agora, pótietar? Aiiiiii, foi tão bom, The Edge tocou praticamente só para a galera que estava do lado de cá do palco, hohoho, o Bono estava logo ali e eu vou ficar velhinha gostando de she moooooves in mysterious ways, aaahan.... It's all right, it's all right, all right... E eu acho que deveria ser proibido a pessoa morrer sem ouvir Where The Streets Have No Name ao vivo. Eu acho.
Palhinha:
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Minutos antes de Muse entrar no palco, liguei para casa pela última vez para dar boa noite às crianças e ter certeza de que estava tudo bem com a Amanda, que estava resfriada. Tava tudo bem, legal. O que eu só fiquei sabendo na manhã seguinte, é que ela teve febre alta durante a noite e enquanto eu saracutiava no show, minha pequena dormia mal. Sem mim. Comigo longe, em outra cidade. Ah, viu. Aperto é pouco.
Vai ser assim, em 2031:
- Lembra do show da turnê 360º?
- Ah, nem me fale. Inesquecível: enquanto eu dançava, Amanda estava com febre em casa. :-/
Não gosto nem de pensar no tamanho da bronca que a minha mãe me daria. Se bem que seria bem desnecessária, já me penitenciei um tantão. Desculpa, filhota. Desculpa mesmo.