Segundo volume da trilogia Millenium: brincando com minha paciência.
Este post contém SPOILERS
Não tenho nenhum problema com tramas mirabolantes, gosto de histórias incríveis, cheias de tiradas inesperadas e personagens exóticos. Acho que a literatura é campo propício aos voos mais inusitados de nossa imaginação, o bom da coisa passa por aí. Então não é certa passagem absurda da trama que me incomoda mais no segundo livro da trilogia Milleninum, A Menina que Brincava com Fogo (Stieg Larsson, tradução de Dorothée de Bruchard). Não quero estragar a festa de quem ainda vai ler o livro, então não posso ser mais específica quando falo de "passagem absurda" (vou escrevendo e me lembrando de passagem semelhante em um filme que adoro - não posso falar, o spoiler seria imperdoável e tenho certeza de que quem leu o livro sabe do que estou falando [tudo bem, conto lá no terceiro parágrafo] - e fico me perguntando por que cargas d'água a coisa não me pegou nesse livro). Enfim. Não é a trama.
O que pega é a construção da história propriamente dita, os recursos utilizados pelo autor, o sueco Stieg Larsson. Usando as palavras do Ulisses: a história é bacana, mas poderia ter muitas páginas a menos. E concordo com ele. Larsson repete. À exaustão, testa nossa paciência. A gente já sabe, mas ele diz de novo. Seria legal se fosse um poema, mas num romance policial considero meio maçante ler a mesmíssima informação 57 vezes. Em um livro onde isso propositadamente acrescentasse algo à experiência do leitor, vá lá, que se justificasse em nome de algum efeito linguístico, sei lá eu. Não parece, contudo, ser o caso de Larsson, sua linguagem é clara, limpa, direta. Então é só repetição mesmo.
[SPOILERS AQUI] No caso específico do segundo volume da trilogia, outra coisa me intrigou deveras: a história se inicia com a protagonista, Lisbeth Salander, curtindo um merecido descanso (depois da correria do primeiro livro) em algum ponto do Caribe. Lá coisas estranhas acontecem e ela se vê envolvida com determinado evento, digamos, violento. O tal evento não se resolve, não se elucida, mas a gente já se prepara para ver que implicações isso terá para a já enrolada vida da moça. Corta. Pula para o capítulo seguinte. E o seguinte. E o seguinte e nunca mais ouvimos falar do tal evento. Mais de cinquenta páginas para nada. Nada. Nunca mais. (Consultei meu marido que já leu o terceiro livro: nada.) / O filme a que me refiro no primeiro parágrafo é Kill Bill. Né? ;-) [Fim dos spoilers]
Tudo pode ser intriga da oposição: criei expectativas altas demais. Todo mundo falava como se o livro fosse algo fantástico. E pode ser, obviamente, para muita gente, mas vocês me entendem. Às vezes a expectativa acaba com a festa. Mas eu desconfio mesmo que o problema está nas linguiças.
Do que gosto muito: da temática. É bom ler uma história com forte nuanças feministas. Com personagens que questionam certas tendências mais conservadoras do chamado senso comum e mostram que quem está preocupado em ditar regra para relacionamentos entre adultos deveria procurar mais o que fazer da vida. Gosto das mexidas nos estereótipos, gosto dos personagens masculinos (nem todos me convencem, mas tuuudo bem). Gosto do jornalista engajado e é bom saber que esse foi um traço forte também na carreira do próprio autor do livro, morto precocemente por problemas cardíacos, logo após o lançamento de sua trilogia. Anos antes, Larsson chegou a ser ameaçado de morte por denunciar organizações nazistas e neofascistas em seu país.
Ou seja, nem tudo é choradeira. Mas, olha, faltou pouca coisa para eu largar o livro no meio. E não faço ideia de quando, ou se, vou ler o terceiro. Mesmo admitindo que ele soube muito bem pendurar a história no alto do precipício esperando que a gente corra para abrir o terceiro livro e aparar a queda. Mas agora não. Quem sabe depois. De novo: o livro é um sucesso, todo mundo adora. Então, se você ainda não leu, não ligue muito para minhas mimimizices. Ou ligue e leia sem muitas expectativas. ;-)
6 comentários:
Não tenho certeza, mas a saga deveria ter 7 livros e o autor morreu antes disso. Há várias tramas iniciadas sem final, por exemplo, há várias indicações que a irmã gêmea da protagonista apareceria nos próximos livros e nada.
A companheira do autor queria escrever a continuação da saga de acordo com as anotações do autor, mas há uma disputa envolvendo a família do autor.
Olá Rita! Li o primeiro livro na mesma época que você e pretendia procurar o segundo livro até ler este post. rsrs Ultimamente tenho estado entretida com livros clássicos da literatura nacional e estrangeira e não ando prestando atenção a esses livros contemporâneos... De qualquer forma, pensarei duas vezes antes de lê-lo, assim como você não gosto de ter minhas expectativas destruídas antes mesmo de criadas.
Eu gostei, mas acho que não das mesmas coisas que você, rs.
Então: eu tava comentando sobre o livro com a Iara no twitter e ela falou que o cara tinha um projeto maior, de vários outros livros. Então é justo dizer que a tal história não resolvida poderia voltar em outros volumes, jamais saberemos.
Jaquee: confesso que meu uma dorzinha ver que você pode não ler o livro por causa do meu post. EU SEI que é bem possível causar essa reação, ora, fiz críticas a ele e tals. Mas, né, tanta gente gosta e vai que a experiência pra você é bem outra? Né? Enfim, se você ler um dia, volta aqui pra gente trocar ideias. Na boa, praticamente todo mundo que lê gosta muito.
Lu, a vida é assim, né. hihihi
Beijos
Rita
Persevere. Porque o vol. 3 é MUITO melhor que o 2, mas se você não ler o 2 não vai entender o 3.
Enfim, o 3 é ótimo, mas o 1 ainda é o meu preferido.
Ih Rita, agora fiquei me perguntando se esse não é um daqueles casos em que o filme acabou sendo melhor que o livro original... Porque eu vi os três filmes e fiquei doida pra ler a trilogia! Adorei a Lisbeth! Mas se ele é assim repetitivo...putz, ja sei que não vai rolar muito não!
Até porque ficção pra mim, so no proximo século! hehe
bjus!!!
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