Day 06: A book by your favorite author
Depois que a gente sai da adolescência, tende a se libertar de rótulos como "o favorito", "o melhor", "o mais isso" e percebe a delícia que é a liberdade de eleger vários e vários, de gostar das coisas sem necessariamente encaixá-las em escalas. O meme, contudo, não está interessado nisso. :-)
Ela veio tarde, eu já estava na faculdade. Mudou tanta coisa, mudou minha relação com a linguagem, mudou minha forma de estudar literatura, mudou minhas preferências. Irreversível. Clarice é irreversível: não posso mais sem ela. Maior que as mudanças foi justamente o seu oposto: o reconhecimento. Leio Clarice aos sustos: como ela sabe? Eu não contei isso pra ela! Pois ela sabia. Tinha a lupa que mostrava as almas. Bruxa. Toda minha reverência para quem, aos 16 anos, escreveu Perto do Coração Selvagem e anunciou:
Ela veio tarde, eu já estava na faculdade. Mudou tanta coisa, mudou minha relação com a linguagem, mudou minha forma de estudar literatura, mudou minhas preferências. Irreversível. Clarice é irreversível: não posso mais sem ela. Maior que as mudanças foi justamente o seu oposto: o reconhecimento. Leio Clarice aos sustos: como ela sabe? Eu não contei isso pra ela! Pois ela sabia. Tinha a lupa que mostrava as almas. Bruxa. Toda minha reverência para quem, aos 16 anos, escreveu Perto do Coração Selvagem e anunciou:
"Mais uma vez ou duas na vida - talvez num fim de tarde, num instante de amor, no momento de morrer - teria sublime inconsciência criadora, a intuição aguda e cega de que era realmente imortal para todo o sempre."
E é.
Há muito dela que ainda não li. Dos que já tive a sorte de ter nas mãos, meu eterno amor para os contos de Laços de Família. Um, em especial, morou em mim durante meses na faculdade e relê-lo infinitas vezes foi sempre um prazer: A Imitação da Rosa.
"Antes que Armando voltasse do trabalho a casa deveria estar arrumada e ela própria já no vestido marrom para que pudesse atender o marido enquanto ele se vestia, e então sairiam com calma, de braço dado como antigamente. Há quanto tempo não faziam isso?
Mas agora que ela estava de novo "bem", tomariam o ônibus, ela olhando como uma esposa pela janela, o braço no dele, e depois jantariam com Carlota e João, recostados na cadeira com intimidade. Há quanto tempo não via Armando enfim se recostar com intimidade e conversar com um homem? A paz de um homem era, esquecido de sua mulher, conversar com outro homem sobre o que saía nos jornais. Enquanto isso ela falaria com Carlota sobre coisas de mulheres, submissa à bondade autoritária e prática de Carlota, recebendo enfim de novo a desatenção e o vago desprezo da amiga, a sua rudeza natural, e não mais aquele carinho perplexo e cheio de curiosidade — e vendo enfim Armando esquecido da própria mulher. E ela mesma, enfim, voltando à insignificância com reconhecimento. Como um gato que passou a noite fora e, como se nada tivesse acontecido, encontrasse sem uma palavra um pires de leite esperando."
(É preciso seguir lendo...)
6 comentários:
Nunca li Clarice mas depois de tudo que vc diz, vou ter que ler.
abç.
E eu sempre, sempre, sempre. O que? Nem sei, mas quando se trata de Clarice é permanência em mim.
"Leio Clarice aos sustos: como ela sabe? Eu não contei isso pra ela! Pois ela sabia. Tinha a lupa que mostrava as almas. Bruxa"
Rita, vc conseguiu. Era isso que eu queria dizer,mas nunca consegui.
Bruxa.;0)
Grazi, comece pelos contos, talvez. Depois... ah, depois lê qualquer um. :-)
Lu, né?
Vivien, hehehe. ;-)
Beijocas
Rita
Ela, que sabe ser simples, que sabe ser densa, que sabe ser. Por isso é que é. Né?
Amo contos - vou atrás deste livro.
BJÃO.
ah,clarice!
Li Perto do coração Selvagem suspirando o tempo todo e me perguntando como era possível que uma mulher que morreu antes de eu nascer pudesse estar falando de mim.
Eu amo a descoberta do mundo.
Ai, acho que vou fazer esse meme tb! hehehehe
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