
Ulisses descobriu A Maior Flor do Mundo por acaso, enquanto procurava por outro livro para encomendar para as crianças. Nem me consultou, porque sabia que não precisava, e aumentou a encomenda. Dias depois, quando voltei do trabalho no final da manhã, as crianças estavam divididas entre o outro livro e o do Saramago. E achei lindas as asas azuis na capa do concorrente, mas, ah, surrupiei discretamente o livro do menino português e li como quem bebe água depois da corrida. Não é uma história, simplesmente. É uma declaração de amor às histórias infantis em que o escritor nos diz que adoraria saber escrever para as crianças, com as "poucas palavras" que elas conhecem - e que, olha lá, "não gostam de usá-las complicadas": o livro apresenta a história que ele gostaria de contar, caso dispusesse de "um certo jeito". Sei.
O que ele contaria, se pudesse, é a história de um menino que salva uma flor. (O Pequeno Príncipe pulou na minha frente, claro, mas há mais que isso.) E segue Saramago revelando a trama de sua história inventada (lindinha demais) para, no final, convidar o leitor a recontá-la, "com palavras mais simples que as minhas":
"Quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita?..."
Cabe um mundo de aventuras literárias em A Maior Flor do Mundo. O livro estende a mão e nos chama para, tal qual o menino da história que Saramago queria ver contada, salvar uma flor bem valiosa, a imaginação de nossas crianças: contem, recontem, imaginem, digam do seu jeito, criem. Num mundo onde tudo vem pronto e automatizado, com luzes e botões, Saramago pede ajuda aos usuários das palavras simples para realçar a magia da contação de histórias, da criação. Olha, muito amor, viu. Como todo livro infantil que se preza, A Maior Flor do Mundo (Ed. Cia das Letrinhas) é lindamente ilustrado. O autor das gravuras é João Caetano (que com o livro ganhou o Prêmio Nacional de Ilustração em 2001); o texto escorre (mesmo) da caneta do Saramago para as ilustrações que enchem as páginas e oferecem um prato cheio para as histórias que cabem ali.
Para crianças, que certamente saberão fazer bom uso; e para adultos que insistem em tentar aprender a ver o simples.
***
Navegando pelo tio Google, vi que a Maria Fro já se rendeu; e lá vi o link para outro post sobre o livro; e também para um site inteirinho dedicado ao projeto A Maior Flor do Mundo!
No Google, vi também o curta-metragem baseado no livro (Ângela, para você e Max). Não pude deixar de abrir um sorrisão desse tamanho, agora que o Arthur cismou em examinar insetos com sua lupa. Vejam lá.
***
"Logo na primeira página, sai o menino pelos fundos do quintal, e, de árvore em árvore, como um pintassilgo, desce ao rio e depois por ele abaixo, naquela vagarosa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu..." J.S.
6 comentários:
Oi, Rita;
Antes dessa moda de autor de livros ditos adultos escreverem para crianças eu conheci esse do Saramago e o do Calvino, "Quem Ficar Zangado Primeiro Perde". São dois livros deliciosos.
Abs,
Suzana
Boa dica, Rita! Na escola da Lelê eles mandam um livro por semana para os pais lerem com a criança e para que a criança re-conte aos colegas com suas palavrinhas na semana seguinte. Detalhe: a média de idade da turminha dela é 3 anos, olha que amor!!Fico imaginando eles na sala contando aos colegas o que os pais leram. . .#muitolindo.
Que lindo Rita! Max esta dormindo mas amanha vou mostra-lo. Vai se identificar muito com o menininho, e vai se encantar com o besouro. Obrigada!!! Ha uma retribuicao na sua caixa de email, a razao pela qual demorei a responder foi por que precisava acha-los aqui em casa para enviar.
Beijao!
p.s.: a minha experiencia de compra de livros da sua lista ha meses atras foi tao infeliz. A Submarino quase me passou a maior perna na minha compra de 18 livros, recebeu o pagamento e so enviou 2. Entao agora vou seguir todas as dicas, mas os livrinhos serao em ingles :( Max ja se deliciou com Tate, the Cat e Around the World in 80 Tales.
Adoro S., como sempre, uma boa dica vinda de cá: tô jogando no facebook agooora mesmo. beijos.
Eu gosto do Saramago como na música do Chico: dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa. Quando é, é muito. Mas não é sempre. Desse, que nem vi, já gostei, porque o antecipei nos seus olhos generosos. E porque quando se é grande e se sabe fazer menino me comove. Saudade de você. Bj..
Oi, pessoas.
Suzana, não conheço o do Calvino, vou dar uma pesquisada. Abraço!
Luciane, o dia da biblioteca das crianças tem sempre um charminho: é o dia em que eles devolvem o livro que pegaram emprestado na semana anterior e pegam outro. Aí é aquela coisa de um ver a história do outro e tal. Gosto quando a Amanda pede para "ler" sozinha e aí já viu, ne... umas pérolas. :-)
Ai, Anginha, tô passada com o Submarino.. e aí você perdeu o dinheiro e ficou por isso mesmo? Nada de devolução? Ai, gente... (amei o presentinho no e-mail!) <3
Vivien, obrigada, querida! Beijocas!!
Lu, eu gosto do Saramago de ruma! :-D
Beijos, vocês!
Rita
Postar um comentário