Porta da sala da Amanda, Infantil C.
Radiante é a melhor palavra. Finalmente ela poderia acompanhar o irmão na tão esperada ida à escola. Não iria mais se despedir dele após o almoço, conformando-se com um repetido "ano que vem você vai também". Hoje ela também tinha uniforme novinho, tênis com meias da escola, mochila e lancheira. Tinha lindas maria-chiquinhas que deixavam seu rostinho aceso completamente à mostra para o nosso total, irrestrito e megacoruja deleite. O irmão, veterano do mundo das escolas, dava dicas importantes e desfilava toda sua experiência em frases como "na hora do lanche você vai tomar o suco, tá?" e "hoje não é dia de levar brinquedo".
Eu não cabia em mim de orgulho do meu pequeno garoto tão vivido, todo gatinho em seu próprio uniforme, feliz por retomar a rotina de vai-e-vem, confortável em sua vida de aluno. Mas estreias têm o seu charme e hoje ele vibrou com o fato de que era o primeiro dia de sua irmã. E lá fomos nós, depois de várias fotos para a posteridade, deixando em casa uma vovó chorosa e uma tia Neia orgulhosa por ver a Amandinha partindo para os primeiros voos imprevisíveis. E imprevisível é outra palavra boa aqui.
Porta da sala do Arthur, 1º ano.
Antecipei tudo: apesar de todo o entusiasmo, seria normal certa hesitação na hora H, um bico aqui, um ensaio de chorinho ali, insegurança clichê de quem até hoje passava os dias em casa. Por isso o unicórnio rosa foi junto pro carro - e claro que a professora permitiria - e por isso avisei ao chefe que certamente chegaria tarde ao serviço porque não fazia ideia a que horas eu conseguiria me desvencilhar da pequena, se é que teria coragem de deixá-la lá. Como a aula de natação seria logo após a escola, planejei um lanche já na academia, porque, obviamente, ela estaria moooorta de sono após um dia tão fora da rotina à que está habituada, caso conseguisse passar a tarde toda na escola, claro, e fatalmente adormeceria no carro a caminho de casa.
O estacionamento da escola estava algo entre lotado e abarrotado, então largamos o carro já na calçada e seguimos a pé por alguns metros. Cada um com sua mochila de rodinhas e eu com meu nó na garganta. Meus planejamentos se mostraram absolutamente inúteis já aí, porque o unicórnio nem chegou a sair do carro. "Não vai levar, Amanda?" "Não", respondeu olhando para o grande prédio na esquina.

Até a entrada do prédio das salas de aula, a caminhada foi guiada por Odisseus e por mim, em meio a um estacionamento inquieto demais pro nosso gosto. Mas foi só se deparar com a rampa que ela associava, em sua cabeça, às salas de aula (certamente lembranças das poucas vezes em que a levamos conosco à escola no ano passado para buscar o Arthur) e ela disparou correndo rampa acima, puxando a mochila, deixando-nos para trás. Arthur ria, satisfeito "mãe, ela tá doida pra achar a sala dela!", enquanto eu driblava pais e alunos. Consegui alcançá-la no topo da rampa, quase em frente à sua sala. Ela já sabia que sua sala seria "a sala dos três porquinhos". Diante das figurinhas na porta, não teve dúvidas. Abriu um sorrisão e me mostrou, linda demais: "Ó, mãe! Os tês poquinhos! É aqui!" E entrou. Ignorada, segui atrás, mostrei-lhe onde pôr lancheira e mochila e apresentei-lhe a professora. Ela abraçou a professora. Abraçou a professora... Mirou a estante de brinquedos, os coleguinhas que já estavam ali, catou uma bolsinha, uma hello kitty e sei lá mais o quê e nunca mais me viu. Fiquei por ali, sem palavras, de cócoras em meio a várias crianças lindas e exploradoras de brinquedos, suspirando e segurando o choro. Saí de fininho (certamente para que eu mesma não me visse, porque a essas alturas Amanda nem se lembrava mais que tinha casa, família, essas coisas) e fui até a sala do Arthur. O pai já o levara lá e ele já estava sentado ao lado do amigão (que está cheio de dentes novos!), todo falante e sorridente. Cumprimentei a professora, fiquei por ali, sendo ignorada pelo outro filho menos de dois minutos depois de a Amanda também ter me esquecido.

Transitei pelas duas salas por alguns instantes, a louca da máquina fotográfica, revendo pais, colegas do Arthur, professoras. Depois que a professora do Arthur fechou a porta da sala, plantei-me à porta da sala da Amanda e fiquei ali. Vi uma menina segura, linda, curiosa, grande. Gente, ela tá tão grande. Odisseus fez o que eu queria fazer, pegou o telefone e ligou para a mãe dele, contando tudo. Voltei a entrar na sala, fiz um carinho em suas maria-chiquinhas, disse que iria trabalhar e logo voltaria, mas ela não me deu a mínima porque estava fazendo pizza. Cerca de meia-hora depois fomos embora. Nossos amores ficaram ali, plantando as sementinhas de suas asas.
Fomos tocar nossa tarde e quando voltamos à escola foi preciso lembrar à Amanda que dali ela iria para a natação, não para casa. Só assim largou o brinquedo, também incentivada pelo meio chocolate que o irmão lhe deu (assim que recebeu o doce da professora, na hora da saída, olhou para mim e falou: "mãe, vou comer metade e dar a outra parte pra Amanda" *suspiro*). Seguimos para a academia, eu e Odisseus cansados, eles a mil. Depois de nadar e lanchar (lembram do plano?), seguiram conosco para casa, ao som da voz da Amanda que cantou durante TODO o trajeto. Brincaram pela sala até não mais poder, passaram da hora de ir para a cama e Amanda só se calou porque avisei a ela que é preciso descansar para ter energia e ir para a escola amanhã de novo.

Não tirei minha mãe do pensamento um só minuto. Teríamos trocados muitos telefonemas hoje, muitos. Lutei muito para conter o choro na escola hoje, profundamente emocionada com esse dia que seria tão divulgado por ela. Ela contaria a todos, toda orgulhosa, esperaria ansiosa pelas fotos que fiz e daria os parabéns à neta por telefone. Lembraria do primeiro dia em que me levou à escola, de como chorei tanto, de que a escola se chamava Pequeno Príncipe, isso e aquilo. Eu adoraria dividir minha emoção de hoje com ela, adoraria. Em meio a tudo, é uma solidão imensa, imensa, imensa.
Eu, em foto providenciada por minha mãe; se ela tivesse tido um blog, certamente teria incluído em um post.
Ao mesmo tempo, penso que todo esse turbilhão em meu coração só acontece porque vê-los felizes e ativos me acaricia a alma. E ela gostaria de me ver sorrir. Vejo lampejos de serenidade porque hoje ficou muito evidente que sempre vou dividir tudo com ela.