Tenho muitas cores dentro de mim.
Hoje li no blog do Alex Castro uma coisa que caiu como uma luva para algo que tenho pensado em dizer aqui há dias. O Alex escreveu o seguinte:
“A gente raramente sabe quem é. "Ser" é um processo dinâmico e virtual de negociação entre minha própria auto-imagem e todas minhas outras imagens que circulam por aí (...)”.
Se fosse possível, o Alex teria me ouvido dizer “putz, é isso mesmo”. O processo é dinâmico porque cada dia somos um; rola uma negociação o tempo todo porque, ao mesmo tempo em que nos expressamos dessa ou daquela forma, vem o outro, interlocutor, ler e enxergar essa expressão com os olhos dele/dela, obviamente. E aí, cara pálida, a miríade de resultados é simplesmente infinita. E a pergunta “sabe a Rita?” pode até ser respondida com um singelo “sei”, mas saber mesmo, olha, nem eu, viu. E tudo bem, a coisa pode ser menos esquizofrênica do que parece; é a vida mesmo, e sua beleza vem muito daí, dessa indefinição. Eu, de minha parte, gosto muito dessa coisa de não saber direito o que esperar das pessoas, especialmente de mim mesma, porque surpresas muito boas podem ocorrer sempre. E quem precisa de rótulo é maionese.
E aí tem o blog e as pessoas que passam por aqui e, claro, criam suas impressões a meu respeito. E há, por outro lado, as pessoas que me conhecem pessoalmente e que também leem o blog e a) confirmam impressões; b) descobrem coisas sobre mim que sequer suspeitavam; c) percebem que minhas colocações são muitas vezes “editadas”, conforme minha vontade. Um exemplo da opção c é a listinha dos dois posts anteriores a este: certamente há muitas outras coisas que gerariam “ooohs” e “aahhhs” surpresos para incluir na minha lista de “eu já...”, mas, sim, selecionei o que quis. E tá valendo porque, no fim das contas, selecionamos o que queremos mostrar para os outros o tempo todo, nas relações pessoais, no trabalho, na internet. Selecionamos o que queremos ver de nós mesmos todos os dias. Viver é essa arte da seleção, também.
A vontade de tocar nesse assunto foi vindo e se instalando a partir de comentários feitos por pessoas que passam por aqui e com quem tenho me relacionado virtualmente nos comentários, nos posts, em blogs por aí, no twitter, enfim. Palavras como doce, suave, meiga têm sido usadas reiteradamente para me descrever e é claro que fico feliz com essas descrições. Se vocês pudessem me ver cada vez que leio essas impressões verbalizadas com palavras tão... doces, saberiam que minha boca sempre desenha um sorriso de satisfação. Mas, e eu sei que vocês sabem, ou pelo menos cogitam, que não sou doçura, meiguice e suavidade o tempo todo. Talvez eu o seja na maior parte do tempo que dedico ao blog, mas certamente não o sou na maior parte do tempo que passo ao largo da blogosfera - ou seja, na maior parte do tempo de minha vida. E eu tenho essa mania - tenho mesmo - de respeitar muito quem vem aqui e reserva uns minutinhos do seu dia (gente, no mundo de hoje!) para ler o que escrevo sobre florzinhas, crianças, receitas, política, whatever, então eu preciso dizer que, sim, às vezes sou bem doce. Mas é só às vezes. Muitas outras vezes, sou azeda pra caramba.
Espero não insultar a inteligência de ninguém, eu sei que vocês sabem que ninguém é só azedume, ou só doçura, ou só calmaria, ou só tempestade, cem por cento do tempo. Ninguém. Só em Hollywood é assim, e nem sempre, veja lá. Mas ao ver tanta gente se referindo a mim como “a mãe dedicada”, “a garota meiga”, “a pessoa doce”, “a pessoa mais paciente e centrada que conheço”, etc., sinto uma urgência gritante de, ao mesmo tempo em que agradeço tanta gentileza, dizer que, sorry, mas tenho lados bem menos elogiáveis. Mas quero dizer mais que isso: quero dizer que gosto muito desses outros lados. Eu gosto de ser misturada. Eu não suportaria ser certinha, uma coisa só. Eu morreria de tédio.
Talvez a vontade de gritar "ei, eu sou chata pra caramba, às vezes” ou “rá! se vocês soubessem das minhas crises de mau humor!” tenha sido reforçada por alguns riscos que andei correndo. Acompanhem: a Amanda fez outro dia um post sobre construções culturais; lá, ela meio que dialogou com um post que eu tinha escrito, tocando nas construções sociais em torno das relações mãe/filhos; a Iara, que também escreveu sobre o tema, comentou no blog da Amanda assim: "eu acabei não falando lá na Rita, que não quis parecer inconveniente (poxa, ela é uma mãe tão apaixonada e fofa!) mas a gente sabe que os nossos relacionamentos também são construções culturais"!!! Gente, eu achei a coisa mais docinha, um baita cuidado dela e tal, mas... eu quase fui excluída de um debate bem bacana por causa da imagem docinha. Vocês percebem o meu drama, oh, céus?
Daí outro dia a HG comentou assim: “Não consigo te imaginar no carnaval de Salvador!!! Desculpa! Mas vc me parece tão tranquila que aquela agitação toda parece não combinar....”. E, olha HG, eu vi na hora minhas amigas companheiras de ladeiras Olindenses morrendo de rir e queria muito ver a cara da minha mãe vendo alguém me descrever como "tão tranquila"... E então pensei “não posso deixar a minha querida leitora HG no escuro”: eu adorava carnaval. Eu estou de folga, é verdade, há anos, mas não há festa que seja mais a minha cara e acho que meus amigos e amigas “dazantiga” concordariam comigo. Mas eu sei de quem é a culpa: é da foto do perfil do blog, eu sei. Ninguém que não me conheça pessoalmente pode fazer um juízo muito justo daquela foto. O que se vê é só... meiguice, não é? Rostinho sereno, olhando pro mundo, pensando no azul, ah... Gente, eu não tenho outra. Eu fico péssima em fotos, naquela pelo menos não assusto os leitores. Mas seria mais adequado, eu sei, uma seleçãozinha de fotos: com raiva, com tédio, com dúvidas, com mau humor, com riso frouxo, etc. Mas, né? Menos, então uma já tá bom - e, por falta de material melhor, escolhi a meiga. Mas não se enganem.
Por fim, sem ansiedades. Não há como me mostrar aqui por inteiro e é claro que não quero ou pretendo fazê-lo - e seria mesmo impossível, visto que nunca estarei "pronta", seja lá o que isso signifique. Mas queria mesmo dizer que adoro os elogios docinhos de vocês, bando de lindos e lindas, mas que seria muita cara de pau de minha parte não avisar que, ei, é só um lado e que em certos dias ele nem aparece. Há dias em que tudo que sinto é que sou uma mulher imensa, com tantos lados e planos incompatíveis que parece que nunca cresci. E que a sensação de ser incompatível é uma das coisas mais preciosas que quero carregar comigo até o último minutinho de minha vida - que, espero, será longa porque, caso contrário, estou ferrada.
Dito isso, reforço que adoro o carinho que vocês me fazem cada vez que vêm aqui e que minha vida ficou, sim, mais doce depois que passei a escrever este blog. Mas aí o mérito é muito de vocês.
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Fazer feliz - pode existir efeito mais precioso? HG já sabe que não cumpro muito bem as regrinhas dos selos: preciso indicar seis, indico sete; precisa dizer uma frase, digo duas ou nenhuma, enfim, uma rebelde, rá! Hoje vou me agarrar ao tema do selo e indicar para vocês um blog que me faz feliz porque me proporciona momentos de muita... como direi... doçura! Isso. De novo, Patricia, o selinho vai pra você, a mulher das fotos maravilhosas. Seu blog e sua amizade me fazem feliz. E o crumble de maracujá que aprendi a fazer lá... hum... e o que dizer do bolo de canela, ai! E o bolo de leite condensado - esse me faz muito feliz! Viram, pessoas? O TK só traz felicidade, corram lá. ;-)